Capítulo 14: Evidência

Megan

 

Não tinha jeito. Eu podia ficar brava com Zac por alguns dias, desejar que sumisse da minha frente, pensar em apagar o número dele de minha agenda e arranjar um outro emprego para me afastar de qualquer maneira. Mas no fim, quando ele me ligou naquela noite eu entendi mais uma vez. Eu nunca seria capaz de dizer não à ele. Pelo menos não enquanto aquela paixão toda me dominasse.

Não era possível que eu tivesse tão pouco amor próprio assim.

Vi que John voltou meio eufórico do almoço naquela terça-feira e embora ele não fosse o cara mais normal que conhecíamos, não estava igual a todos os outros dias. Alguma coisa havia acontecido.

Perguntei pela primeira vez apenas por curiosidade e talvez por um pouco de educação, e talvez nem teria sido tão relevante assim se Zac não o tivesse olhado daquele jeito. E se tinha alguma coisa a ver com Zac eu me achava no direito de saber e claro que não perguntaria para ele próprio.

Esperei até que John enfim saísse da empresa mais à tarde e o acompanhei dando boa noite aos que ficavam, achei ter visto uma expressão de alívio em Zac. A repulsa por mim estava ali mais uma vez, não sei qual era o erro que eu cometia com ele. Peguei minha bolsa e dei uma corrida até o elevador, bem à tempo de alcançar John, que havia encostado sua cabeça no espelho.

O garoto nem me deixou perguntar, soltou tudo como se estivesse o dia todo se segurando para contar.

Zac e Allison voltando de carro juntos depois do almoço?

Depois daquela reunião em que notei algo entre eles pela primeira vez, eu tentei me convencer que aqueles olhares não tinham nada demais e toda a maldade estava em minha cabeça possessiva e cheia de ciúmes.

Então houve o casamento e toda aquela dança animada entre eles. Me lembrei de como me comportava com meus pais quando era criança e queria a atenção só pra mim, me enfiava entre as pernas deles e com os braços empurrava um para cada lado, tentando separá-los. E aquilo era tudo o que eu desejava fazer naquele dia, mas não o fiz.

Eu me contive mais uma vez.

Até John me acertar em cheio com mais essa informação e foi nesse momento que tirei a venda de meus olhos e decidi, enfim, que enxergaria o que estava bem em minha frente de uma vez por todas e faria qualquer coisa para descobrir cada vez mais.

Eu não entregaria Zac para Allison, assim, de bandeja.

O problema era, mais tarde quando estava em minha cama cheia de insônia ainda sentindo o cheiro dele em meus lençóis, eu não sabia o que faria com qualquer informação que conseguisse. O chantagearia? Ou talvez chantagearia a ela? Tentaria separar os dois? Isso me garantiria ficar com ele ou me afastaria ainda mais? Eu estava tão obstinada assim a destruir o que quer que ele tivesse com qualquer outra mulher? Por quê eu precisava tanto saber se não éramos nada além de amantes uma noite ou outra? E não haviam respostas.

Me virei no travesseiro, pois o sono não vinha e peguei então meu celular no criado-mudo. Abri uma foto de Zac comigo na primeira festa a qual fomos juntos e onde trocamos os primeiros olhares longe do trabalho.

Aquele dia havia sido ótimo, mas talvez ele fosse apenas um cafajeste mesmo. Talvez eu não fosse a única a ser enganada ali.

Travei meu celular e o coloquei de lado novamente, as lembranças daquele dia só me deixavam ainda mais perdida.

Eu não sabia o que fazer, e em alguns momentos, pensar em pedir ajuda à alguém era a única solução que me restava.

 

Eu sempre havia admirado a amizade entre Zac e Paul. Independente de trabalharem juntos, ambos eram cúmplices de vida, viviam saindo por ai e eu os via conversar sobre qualquer tipo de assunto, o que me fazia acreditar fortemente que o que quer que estivesse ou não acontecendo entre Zac e Allison, Paul certamente saberia.

Pensei mais uma vez em pedir socorro à Paul e em seguida pensei em desistir por imaginar que nada sairia dele, mas não consegui pensar em nada melhor, ninguém mais poderia me ajudar naquele momento e ali estávamos nós, tomando café juntos naquela sexta-feira. Mais cedo eu havia lhe enviado uma mensagem de texto o convidando e não sei o que pensara sobre isso, só sabia que ele estava lá e eu aproveitaria essa oportunidade.

“Então, está tudo bem Megan?” me perguntou dando um gole em sua bebida fazendo menção de ter queimado um pouco a língua.

“Preciso que você me diga.”

E sua atenção havia saído da bebida que ele assoprava tentando esfriar e voltara a mim.

“Do que é que você está falando?”

“Paul, não somos mais crianças. Você sabe o que sinto por ele, não é? E sabe ainda mais o que ele não sente por mim.”

Vocalizar aquela frase foi complicado. Meu coração sentia pela afirmação do óbvio.

“Megan…” sua respiração era pesada, ele sentia por minha situação, e em sua voz, eu consegui sentir isso.

“Não adianta pedir pra que eu desista dele ou de uma resposta. Sou uma cabeça dura daquelas, você sabe.”

“É, eu sei,” voltou a assoprar sua bebida, dando então mais um gole. “E eu não posso te ajudar, sinto muito.”

Eu não aceitaria aquilo tão facilmente, Paul me devia aquilo, droga.

“Paul, por favor. Você só precisa me falar qual é a dele com a chefe? E nem venha me dizer que não sabe de nada.”

Mais um gole, outro. Foi uma eternidade até que olhasse em meus olhos de novo.

“Vamos supor que eu soubesse de algo, você bem sabe que eu não te contaria não é?”

Respirei fundo. Minha suspeita então estava certa. Paul era um filho da puta de um amigo fiel.

Olhei para fora do lugar onde estávamos e me distrai quase que por um minuto inteiro com um garotinho brincando com seu cata-vento, toda aquela inocência me trouxe um sentimento estranho. O silêncio nesse período deve ter incomodado a Paul, que pegou em uma de minhas mãos chamando minha atenção de volta.

“Você precisa seguir sua vida sem ele. Sabe disso, não sabe? Não precisa dessa situação toda pra si. Você é uma mulher bonita e inteligente, Megan. Você merece alguém que te leve à sério de verdade e ele não é esse tipo de cara.”

Soltei minha mão da dele, eu estava irritada. Só queria que ele parasse de falar aquelas coisas, sobretudo por ser uma verdade tão clara.

Me levantei, peguei minha bebida e minha bolsa.

“Vejo você no trabalho Paul. Obrigada por nada!”

Saí pisando um pouco mais forte do que planejava e o consegui ouvir dizendo um tanto alto para que o som me alcançasse: “Por nada!”

 

Durante a manhã toda me mantive um tanto afastada das outras pessoas que trabalhavam por ali, era um tipo de autodefesa que eu adotava toda vez que algo tomava um rumo diferente do que eu gostaria e ainda pra ajudar meu computador não queria funcionar direito por nada nesse mundo e o pessoal responsável por mantê-lo em dia, aparentemente, estava envolvida em um projeto de Steven, ou seja, eu era o menor dos problemas ali e teria de me virar com o que tinha. O problema é que muitos clientes me cobravam por resultados e o serviço só acumulava, o que me deixava extremamente mal humorada.

Antonieta organizou mais um de seus comes e bebes o que deixou todos animados, comendo e falando animadamente pra lá e pra cá sem nem ao menos notarem minha indiferença, eles provavelmente já tinha se acostumado com aquilo vindo de mim.

Naquele dia Zac sorria por qualquer motivo e parecia um tanto quanto animado, provavelmente havia visto um passarinho verde e eu esperava que esse pássaro não tivesse o nome de Allison.

Dentro do aquário Allison não tirava os olhos do computador enquanto tinha pratinhos cheios de guloseimas em sua mesa.

Antonieta e seus mimos.

No horário de almoço Paul chamara Zac para saírem juntos. Eu torcia para que não conversassem nada sobre mim ou sobre o que eu havia perguntado à Paul, mesmo que soubesse que nada era segredo entre os dois.

Meu computador à essa altura já estava tão lento que resolvi tentar usar outra máquina para adiantar o que desse, notei que o computador de Zac não estava travado e me sentei lá para ver o que eu podia fazer.

Abri o sistema que usávamos com minha própria senha e comecei a usá-lo xingando todo mundo mentalmente por ele ter recursos tão melhores que os meus enquanto eu ficava sofrendo com aquele monte de lixo que era meu computador.

Enquanto estava concentrada notei uma barra azul piscante surgir no canto da tela e chamar minha atenção. Era uma garota de outro departamento o convidando para almoçar pelo Skype que também ficara aberto.

Oras, que ousadia era aquela?

De repente tive um estalo, uma ideia brilhante.

Olhei para os lados, todos trabalhavam concentrados demais para perceber o que eu fazia.

Abri a janela de conversa com Paul e lá estava todo o histórico. Na última conversa falavam apenas sobre o lugar onde almoçariam naquela tarde, então subi um pouco mais.

 

Paul: Já sabe para onde vocês vão no fim de semana?

Zac: Um parque talvez.

Paul: Parque? Que passeio de menininha, cara.

Zac: A chefe é quem manda.

 

Reli a última frase e voltei para o começo. Então quer dizer que Zac e Allison iriam se encontrar romanticamente em um parque?

Senti meu sangue fugir das veias, eu estava um pouco tonta e não conseguiria ler mais por ora.

Salvei tudo em um arquivo e enviei para meu próprio e-mail bem à tempo de avistar Zac retornando aos risos com Paul.

Fechei tudo a tempo de abri novamente o sistema fingindo nem notá-los ali.

“Meg, posso?”

“Claro!” me levantei pegando meus papéis e me encaminhando de volta para minha mesa “Me desculpe, tive que adiantar algumas coisas no seu sistema, aqui está lentíssimo.”

“Tudo bem.”

Voltei para minha mesa e aquela ansiedade estava me deixando louca. Eu queria poder sair da empresa logo e ler aquele arquivo com calma, afinal, ali eu não poderia fazer nada sem demonstrar qualquer tipo de reação.

Eu não sabia o que esperava encontrar ali, mas de alguma maneira ou de outra eu sentia que alguma coisa ali tiraria todas as minhas dúvidas. Eu estava apostando todas as minhas fichas naquilo.

Mas agora pensando… Será que naquela conversa que li anteriormente era mesmo de Allison que eles estavam falando?

Eu tinha certeza que sim.

 

A tarde demorou a passar e eu contava os segundos para poder chegar em casa e poder ler todo aquele conteúdo em um arquivo do Word. Desde a primeira troca de mensagens até aquela última que eu havia lido há pouco tempo atrás. Eu leria tudo com calma e analisaria desde um cumprimento até um ponto final.

Eu queria respostas porém ninguém parecia disposto a me entregá-las de bom grado. Era aquilo ou nada mais,

Eu teria minhas respostas, Paul querendo ou não.

Resolvi me entreter em meu trabalho, já que meu computador não estava com vontade de colaborar naquele dia, eu teria que trabalhar à moda antiga.

Procurei umas folhas e algumas canetas coloridas em uma de minhas gavetas e abri espaço em minha mesa. Fazia tempo que eu não mexia com desenhos feitos à mão e eu sabia que aquele seria um modo incrível de fazer o tempo passar.

Peguei o esboço que um de nossos clientes havia nos mandado e comecei a criar um slogan para sua campanha, consegui me envolver bastante enquanto pintava uma letra e desenhava algum efeito diferente no papel.

Passar aquilo para o computador seria a treva.

“Megan,” ouvi uma voz feminina me chamar e então olhei para cima, tirando a atenção de meu trabalho. Allison me olhava com as sobrancelhas franzidas. “O que está acontecendo? Por que está fazendo seu trabalho manualmente?”

A vontade que eu tinha era puxar aquele cabelo loiro e esfregar a cara dela na tela de meu computador.

Aquilo resolveria um tanto de minhas frustrações.

“Meu computador não está respondendo, Allison.” Assim que respondi isso, voltei a olhar para o papel que antes eu trabalhava, tentando ignorá-la completamente.

“Já avisou ao técnico?”

“As prioridades dele são outras. Seu pai tem um serviço mais importante para ele.” Voltei a olhá-la.

“Por que não me avisou antes?”

“E você resolveria?” Ergui a sobrancelha. Não sei como Allison não havia me demitido ainda, afinal, eu não tinha papas na língua e com ela, isso piorava ainda mais.

Vi seus olhos se fecharem um pouco, como se tivesse levado aquele meu comentário à mal.

“Veja o que dá para fazer hoje e amanhã resolveremos isso cedo.”

Com isso ela passou por mim e foi em direção ao elevador, apertando um dos botões segundos depois e descendo os andares da W&F.

Olhei em meu relógio e vi que hoje a chefe estava saindo mais cedo do que andava saindo ultimamente. Percebi também que ainda faltava em torno de meia hora para que eu fosse liberada de meus deveres.

Voltei a pensar na conversa que me esperava para ser lida mais tarde e a ansiedade bateu com força em meu estômago, me fazendo ficar automaticamente enjoada. Minha primeira reação foi apoiar minha cabeça contra a mesa para relaxar. O fato de eu querer descobrir de qualquer maneira o que Zac tinha a me esconder, fazia com que meu estômago queimasse tudo o que tinha dentro dele.

Olhei para o lado e vi que Zac digitava algo em seu celular enquanto sorria de orelha à orelha, parecendo estar bastante animado. Não sei se foi por pensar que ele trocava mensagens com Allison, mas aquilo fez com que eu ficasse ainda mais tonta e nauseada.

Peguei um antiácido dentro de minha gaveta e corri para a cozinha para tomar aquilo e me ver livre de vez daquela dor insuportável. Ouvindo as bolhas se formarem enquanto aquela pastilha branca rolava de um lado para o outro em meu copo cheio de água, resolvi que meia hora mais cedo não faria com que eu perdesse o emprego. Eu iria para casa e acabaria com todo aquele sofrimento.

Bebi aquele líquido de uma vez por todas e voltei para minha mesa onde comecei a juntar minhas coisas rapidamente.

“Aonde está indo?” Ouvi a voz de Paul me perguntar.

“Para casa. Não estou me sentindo bem.” Eu disse sem parar de arrumar minha bolsa. Eu sabia o que resolveria aquela minha dor de estômago, mas eu sabia que se ficasse lá, aquilo só pioraria.

“O que você tem?” Dessa vez a voz de Zac me atingiu. Eu podia ouvir um pouco de preocupação em sua voz e aquilo fez com que meu coração disparasse. Era incrível o que Zac era capaz de fazer comigo com uma simples pergunta como aquela.

Me virei para ele o analisando, “Meu estômago está doendo muito e isso está me deixando enjoada. Não estou conseguindo me concentrar e esse computador não ajuda, então eu ficar aqui é perda de tempo.”

Zac franziu suas sobrancelhas enquanto me olhava e não disse nada.

“Bem, se perguntarem por mim, avisem que eu precisei sair mais cedo.” Eu disse, colocando minha bolsa no ombro e me dirigi para o elevador.

“Vê se se cuida.” Zac disse de leve assim que apertei o botão para a garagem.

 

Eu havia saído um pouco antes da hora do rush começar e por isso não peguei muito trânsito, eu estava há apenas dez minutos de casa.

Meu estômago não parava de pulsar e arder, e quanto mais perto de casa eu chegava, mais aquela dor aumentava. Ansiedade era o que me definia naquele momento e parecia que eu não chegava nunca.

Ouvi meu celular apitar, mostrando na tela que eu havia recebido uma mensagem de texto e assim que parei no próximo semáforo, o peguei e li a mensagem:

 

“Espero que você esteja se cuidando. Você sabe, aquela noite não era para ter acontecido e não estou querendo problemas para minha vida agora.”

 

Era Zac.

Eu não precisava nem de ver o remetente pois eu tinha certeza que era uma mensagem dele.

Ele era daquele jeito, falava e fazia as coisas sem nem pensar se estava magoando algúem ou não.

 

“Vai se ferrar, idiota. Nem em um milhão de anos eu seria estúpida o suficiente de ter um filho seu.”

 

Respondi cheia de raiva, ouvindo então as buzinas me fazerem perceber que o sinal verde já havia virado.

Era óbvio que eu gostaria de ter ter uma família com Zac, gostaria que ele me amasse como eu o amo. Mas conhecendo-o como conhecia, isso era um sonho muito, muito distante.

 

“Fico feliz por pensar assim.”

 

Ele sabia que eu mentia, mas eu não me importava. Eu não queria nem saber o que ele estava pensando sobre mim, eu só queria ler logo aquela conversa pois não sei se meu estômago aguentaria muito mais.

 

Alguns minutos depois e eu estava estacionando o carro em minha garagem, não demorei muito para entrar em casa, ligar o computador e acessar meu e-mail.

A primeira mensagem que li não foi nada além de Zac perguntando qual era o nome da fonte que Paul havia usado em um de seus trabalhos.

A segunda mensagem não era muito diferente daquilo, o que fazia com que minha frustração só crescesse.

Na terceira conversa, o assunto começou a mudar. O papo era a reunião onde Allison havia sido apresentada como nova chefe de setor. Zac parecia incrivelmente irritado em suas mensagens e muitos palavrões haviam sido ditos.

Em algumas das mensagens que vieram depois, Paul demonstrava achar Allison interessante. E para meu desespero, Zac concordava com ele. Ele comentava dos atributos físicos de Allison e aquilo fazia com que meu estômago só piorasse.

Uma coisa era saber que Zac ficava com outras mulheres além de mim e que as achava interessante, outra coisa era ver como ele agia com seus amigos quando não estava comigo, em minha cama.

Rolei a barra para baixo e a troca de mensagem à seguir fez com que meu queixo caísse. Eu não acreditava no que lia e por isso tive que reler a conversa daquele dia toda novamente. Eu estava chocada demais para acreditar e aceitar que aquilo vinha daqueles dois.

Li toda a conversa que vinha depois e a única coisa que consegui pensar é em como eu não conhecia a pessoa da qual eu amava e para qual eu me doava tanto. Era incrível, mas nem eu imaginava que ele fosse capaz disso.

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