Capítulo 24: Eu prometo!

Zac

 

Ah Allison, quando é que você vai parar de trombar no meu caminho?

Fingir que não a conhecia era uma escolha ruim, que podia me gerar problemas futuros, mas o que eu poderia ter feito senão entrar no jogo que ela mesma havia criado?

Christopher estudara comigo no primeiro ano da faculdade, até que decidiu que aquele curso não era para si e trancou sua matrícula de uma vez por todas. Desde então mantivemos contato e ele era definitivamente um bom cara. Eu estava feliz em revê-lo e mesmo que fosse uma senhora coincidência que ele estivesse namorando com Allison agora, aquilo não era de todo uma má ideia. Chris faria bem à ela, disso eu tinha certeza absoluta. E no fundo, eu só desejava ver a felicidade de Allison. Mesmo que fosse com um completo desconhecido ou um amigo meu, afinal, depois de tudo, ela merecia.

Depois de todo o desconforto causado pela chegada deles, me sentei de volta ao lado de Rachel e Chris sentou-se com Allison na outra ponta da mesa nos lugares que estavam livres. No maior nível de descrição possível e inconscientemente, dei uma olhada de cima à baixo em Allison enquanto se encaminhava a seu lugar, e ela estava deslumbrante. Me fizera lembrar a noite no casamento do filho de Antonieta, a noite em que sem nem ao menos perceber eu começara a gostar daquela mulher.

Olhei para Rachel tentando afastar esses pensamentos de minha cabeça, ela sorriu e me deu um beijo, logo me inserindo ao assunto que levava com Brenda e, o que fez com que eu me entretesse.

Ao fundo, um cantor desconhecido tocava músicas propícias ao ambiente, o que criava um clima de descontração e com isso acabamos conversando a noite toda.

Hora ou outra meu olhar desviava automaticamente para Allison e em algumas vezes nossos olhos se cruzavam fazendo com que os dois tentassem disfarçar de alguma maneira. Eu definitivamente não pretendia flertar com ela, afinal, Rachel estava ali e eu a respeitava e amava muito. Mas não conseguia deixar de me preocupar em como Allison estava levando o fato de estar ali, em meio aos meus amigos, com John e Paul, que sabiam de toda a história e pareciam sorrir excessivamente para mim a toda hora, como se tudo aquilo fosse uma grande piada. E Rachel, que não economizava carinhos e sorrisos para mim o tempo todo.

Allison devia estar achando que eu estava me exibindo.

Respirei fundo com aquele pensamento e vi que Paul se aproximou de meu ouvido com a desculpa não dita de que precisava fazer aquilo por conta do barulho do ambiente.

“Ela já bebeu uma grande quantia de drinques, está vendo isso, Zac?”

“Não é responsabilidade minha dessa vez, ela não está sozinha.”

Uma onda de compreensão se passou pelo olhar de Paul, e sua expressão dizia que eu tinha razão, fazendo com o que o assunto se encerrasse por ali mesmo.

No momento seguinte, um dos garçons que estava nos servindo se aproximou de nossa mesa descrevendo meu carro para saber se pertencia à algum de nós, já que um outro motorista não estava conseguindo tirar o seu veículo da vaga, pois o meu estava bem no caminho.

Me encaminhei para o estacionamento para resolver aquele problema e quando já estava estacionando novamente meu carro de volta à vaga, visualizei Allison saindo do ambiente em que nos encontrávamos anteriormente. Ela parecia procurar alguém e estava sozinha.

Decidi que fingiria não te-la visto, era melhor para nós dois evitar o clima que se seguia cada vez que precisávamos nos dirigir um ao outro.

Para minha surpresa, ao passar ao seu lado, ouvi sua voz um pouco distorcida se dirigir à mim.

“Zac?”

Olhei em seus olhos, a analisando. Ela estava visivelmente alterada pelo álcool. Aquilo não era bom. Nem um pouco.

“Allison. Entre, está frio aqui fora.” Eu disse enquanto cruzava meus braços por cima do peito.

“Bem educado de sua parte, mas não precisa fingir que você se importa comigo, Zachary.”

Apertei meus lábios, um contra o outro e balancei a cabeça positivamente enquanto imaginava o que fazer à seguir, era melhor continuar no plano inicial. Evitar um contato ainda era a melhor opção.

“Ok, então eu vou nessa.”

Me virei de costas, na intenção de voltar para dentro.

“Como você ousa fazer isso comigo, Zac?”

Ela ainda estava falando. Meu Deus!

Parei onde eu estava, de costas para ela e respirei fundo antes de me virar para encará-la. Cheguei bem perto de Allison. Eu estava perdido, tinha caído na armadilha dela.

Senti uma bola apertar contra meu peito e a raiva saiu em forma de palavras. “Como eu ouso fazer o que, Allison? Do que é que você está falando, afinal?”

Seu olhar parecia um pouco assustado agora, mas ainda assim me encarava de volta.

“Você mentiu pra mim, disse que me amava e mentiu pra mim. Agora volta com essa, essa… E esfrega ela na minha cara de propósito.”

Eu estava desacreditado, sentia o sangue ferver em mim, eu não podia estar ouvindo aquilo.

“Você só pode estar de brincadeira com a minha cara.” Dei uma risada nervosa. Minha mente me mandava ir embora dali e deixá-la falando sozinha, mas meu corpo não obedecia e meus pés pareciam colados ao chão. Se ela mexeu naquela ferida, ela teria que me ouvir também e seria naquele momento. Eu já havia aguentado demais. “Sabe qual é o seu problema, Allison? É que você foi mimada a vida toda naquele casarão, cercada de toda e qualquer coisa que pudesse, um dia, querer. Sua mãe pediu um cargo pra você na empresa antes de morrer, não é? Isso explica muita coisa para mim. E hoje você acha que o mundo todo está à sua disposição, mas eu tenho uma novidade pra você. Quer saber? Não é assim que a vida real funciona.” Minha voz saiu um pouco mais alto do que eu planejara e só me dei conta disso quando já tinha terminado de dizer tudo o que estava engasgado em minha garganta.

“Não fala da minha mãe. Você não sabe de nada, mal me conhece!”

“É verdade. Eu mal te conheço e como você mesma disse, era melhor que eu nunca tivesse a conhecido. E chega dessa ladainha sem fundamento, eu não aguento mais ficar lidando com essa sua criancisse. Você teve a chance há quatro anos atrás, Allison, mas você preferiu desperdiça-la, agora não me venha com gracinha dizendo que eu fiz isso ou aquilo, porque eu não sou mais aquele imbecil do passado. Eu já me cansei de você há muito tempo. Chega. Some da minha vida de uma vez por todas.”

Vi que seus olhos se encheram de lágrimas e que seu queixo tremia. Eu a havia magoado mais uma vez, mas por algum motivo, naquele momento eu não me importava. Eu havia falado tudo o que eu queria falar há anos.

Eu não voltaria atrás, nem mesmo depois de ela derramar aquelas lágrimas que desciam por seu rosto como uma cachoeira.

“Você é um ridículo, Zac, um ridículo!” Ela gritava em desespero por me ver mais uma vez virar de costas para ela, como viu que eu não voltaria dessa vez, me alcançou e me deu vários socos nas costas, sem parar de gritar o quão ridículo eu era. Ela estava descontrolada, não sei dizer se aquilo era tudo culpa do que ela havia tomado naquela noite, mas eu já não aguentava mais. Eu estava decidido à ignorá-la.

Como se em uma última tentativa de me chamar a atenção ela segurou em um dos meus braços me fazendo virar para si. “Eu amo você, seu idiota!”

A encarei e vi que sua maquiagem, que antes estava impecável, agora estava derretida por todo seu rosto por causa das lágrimas. Ela estava sofrendo, era possível ver aquilo e por mais que eu sentisse um rancor por tudo o que tínhamos passado, eu não gostava de vê-la daquele jeito.

Respirei fundo e olhei para baixo, quando então voltei a olhar para seu rosto, vi que seu olhar, que antes era de dor e sofrimento, havia se tornado em uma máscara de choque e horror quando ela o desviou de mim e encarou algo em minhas costas. Virei meu rosto para ver o que a fazia estar daquele jeito e lá estava Rachel parada, nos olhando.

E ela parecia perplexa.

“O que está acontecendo aqui, Zac?”

“Me desculpe!” Allison disse em um sussurro sem olhar para nenhum de nós dois e entrou de volta para o bar deixando apenas Rachel e eu ali. Fiz questão de chegar mais para perto dela, eu tinha muito o que explicar.

“É uma longa história que preciso te contar, Rachel. Por favor, me espere no carro. Eu preciso me despedir das pessoas.”

“Não! Eu vou com você.”

Rachel era o autocontrole em pessoa e sempre me surpreendia com seu jeito calmo de resolver as coisas.

Entramos e fomos em direção à mesa. Tentei me manter o mais calmo possível, pois não queria que as pessoas percebessem que algo havia acontecido.

“Pessoal, nossa noite foi muito agradável, mas agora preciso me retirar, ok? Obrigado por virem. Continuem se divertindo.”

“Está tudo bem?”

“Está sim, John, obrigado por perguntar.”

Vi os olhares passarem de mim para Rachel, procurando algum sinal de um motivo que nos fizesse ir embora assim, tão repentinamente.

Começaram, então, a se levantar um a um para se despedir e fazer promessas de futuras visitas que eu sabia que nunca aconteceriam.

Chris me perguntou se eu havia visto Allison, que segundo o que dissera à ele, havia ido ao banheiro, mas já demorava tempo demais. Eu obviamente menti, dizendo que não a tinha visto e fui embora dali logo depois.

Durante todo o trajeto para casa, Rachel se manteve em silêncio enquanto olhava para o caminho à nossa frente. Meu estômago já começava a doer só de pensar no que diria à ela. Talvez a verdade, toda a verdade. Ela merecia.

***

Assim que chegamos em casa, eu sentia meu coração palpitar de puro nervoso. Desde que eu havia conhecido Rachel, eu sabia que ela era incrivelmente calma, mesmo nas situações mais adversas, e mesmo acreditando que as vezes isso era uma qualidade, naquele momento, aquilo estava me deixando louco.

Eu queria saber o que estava se passando na cabeça dela. Em qual história ela deveria estar criando em sua mente e em como resolveríamos isso.

“Rachel…”

“Estou aguardando uma explicação do que eu vi naquele estacionamento, Zac.”

Respirei fundo. Aquele era o momento.

Fiquei de frente para ela e tentei manter meus olhos grudados aos dela. Eu queria que ela acreditasse em tudo o que eu tinha para dizer e em como eu me sentia.

“Eu não conheci a Allison essa noite. Eu a conheci há quase cinco anos atrás. Trabalhei para ela.”

Até aquele momento, Rachel não havia demonstrado qualquer emoção ainda e aquilo me deixava ainda mais nervoso.

“Rach… Sente-se aqui.” A peguei pela mão e a trouxe até o sofá. “Eu trabalhei na empresa do pai dela. Eu trabalhava no setor de artes da Watson & Fletcher e a Allison entrou como diretora do meu setor, depois que nosso chefe saiu. Bem, eu havia trabalho muito duro em todo o tempo em que estive naquela empresa, e não achava justo que a filha do patrão entrasse como diretora só por ser filha de quem era.”

Eu tentava escolher as palavras que usaria, mas relembrar o passado era complicado pois várias emoções diferentes me invadiam e me faziam querer explodir.

“Eu achava que eu era quem merecia aquela posição, afinal, ela estava acabando de entrar para o mercado. Mal havia acabado de se formar.” Respirei fundo e então continuei. “Hoje vejo que fui egoísta e tudo o que veio depois disso foi fruto de um impulso precoce e imaturo.”

Rachel mantia seu olhar em mim, aquilo já estava me matando.

“Rach, fale alguma coisa. Por favor.”

“Só vou falar quando você terminar de me contar o que isso tudo tem a ver com o que ouvi ela dizer naquele estacionamento, Zachary.”

Balancei a cabeça positivamente e então continuei a contar a maior merda de minha vida. “Eu fiquei muito nervoso. Eu estava a ponto de matar um com aquela mudança repentina de superior. Eu esperava aquela chance para mim, Rachel. Eu queria ganhar uma promoção assim que Tom saísse. Eu havia me esforçado para aquilo e aí vem ela e bem, você sabe…” Passei a mão por meu rosto, para tirar o suor que começou a brotar. “Foi então que Paul apareceu com uma ideia que de início me pareceu muito imbecil, mas que depois me encheu os olhos.”

Aquele era o momento de contar à ela o mal que eu havia feito à Allison. Era o momento de mostrar quem eu realmente havia sido antes de conhecê-la.

Era hora de revelar para ela quem era o verdadeiro Zac.

“Ele me propôs uma aposta.” A sobrancelha de Rachel se ergueu. Decido continuar. “Apostamos que eu conseguiria levar Allison para a cama. Que eu conseguiria dobrar a chefe.”

“Zac…” Rachel disse e então balançou a cabeça.

Aquilo fez com que meu coração doesse. Ela estava decepcionada comigo, eu podia sentir.

“Eu me arrependo todos os dias de ter aceitado aquilo, Rachel. Eu juro.”

“O que aconteceu depois?”

“Eu me envolvi. E eu me…” Eu não conseguia pronunciar aquela palavra para a mulher que estava em minha frente.

“Você se apaixonou.”

Confirmei enquanto encarava o chão.

“O que aconteceu depois disso?”

“Ela descobriu que tudo aquilo era fruto de uma aposta entre Paul e eu, e nem adiantava eu dizer o que eu sentia por ela. E sério, de alguma forma eu entendo, como acreditar em um cara que apostou que te levaria para cama, não é? Mas enfim, depois disso eu levei uma boa surra do irmão dela e ela me mandou para o inferno.”

Rachel mordeu o lábio inferior, como sempre fazia quando estava preocupada ou quando pensava sobre algo sério.

“Você não lutou por ela?!”

Eu não havia entendido se aquilo era uma afirmação ou uma pergunta. Preferi escolher a segundo opção.

“Eu tentei. Tentei fazê-la entender que tudo o que eu havia feito havia sido uma burrice e que eu estava arrependido. Que eu realmente tinha sentimentos por ela… E que se ela realmente não quisesse nada mais comigo, que eu sumiria. Que eu iria embora.”

“Embora?”

Eu tinha certeza que ela queria saber se com aquele ’embora’ eu queria dizer Londres.

Decidi continuar.

“Sim. Eu disse que iria embora e que aceitaria o emprego em Londres… E que nunca mais a procuraria. E então ela…”

“Ela te deixou ir.” Rachel concluiu.

“Mas Rachel, depois de um tempo eu percebi que isso foi bom, no final das contas. Afinal, eu conheci você, que é o amor da minha vida. Como eu poderia ter te conhecido se…”

Ela me interrompeu levantando uma mão bem em frente de mim.

“Eu quero que você me prometa que nunca mais vai vê-la, Zac.”

Rachel era assim mesmo, sempre pensava em assuntos importantes como esse, de modo frio. E naquele momento não seria diferente. Ela não queria saber o que eu havia feito no passado. Era óbvio que ela sentia por eu ter enganado Allison. Ela só queria entender tudo, essa era a verdade, mas ela não queria saber de mais nada além disso. Só queria pensar no futuro. Em nosso futuro juntos.

E era nisso que eu ia focar daqui para frente.

“Eu prometo.”

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