Capítulo 23: Comemoração

Allison

 

A noite anterior havia me estressado mais do que imaginei que faria. Fui àquela conferência apenas para ter uma atualização de nossos serviços e para ver como o mercado poderia nos tratar dali em diante, mas acabei tendo uma surpresa enorme, e não tinha nada relacionado com o trabalho. Não sei se posso falar que a surpresa foi feliz ou se foi horrível, afinal, era Zac, bem ali em minha frente.

Era como se fosse um fantasma que estava voltando de Londres para me atormentar e me fazer lembrar de um passado onde eu tive uma das maiores desilusões amorosas de minha vida.

Eu queria surtar, queria encher a cara dele de bolacha por estar de volta depois de me prometer que nunca mais apareceria na minha vida, mas consegui me conter para o bem de todos e bem como minha mãe me ensinou quando eu era pequena, devemos cumprimentar todos, inclusive àqueles com os quais temos problemas ou pendências à resolver.

Era uma simples questão de educação. Eu nunca havia entendido isso muito bem, mas é claro, minha mãe sempre esteve certa, e resolvi seguir seus conselhos por toda minha vida. E foi então que fui até ele para constatar que sim, aquilo era real, Zachary Hanson estava realmente em minha frente.

Ele realmente havia voltado.

E usava uma aliança de ouro na mão direita.

Eu não conseguia acreditar no que meus olhos viam… Graças à Deus Paul apareceu bem nessa hora, pois eu fiquei simplesmente chocada com aquela novidade. Eu não sabia como reagir, se é que devia realmente reagir àquilo. Eu estava completamente perdida, não sabia o que fazer.

Será que ele realmente havia me esquecido?

Ele seguiu em frente, arranjou uma noiva, será que isso significaria que ele havia se esquecido de mim?

Como ele poderia ter se esquecido de todo aquele sentimento a que dizia sentir por mim? Mesmo que o tenha deixado partir, eu havia acreditado em tudo o que me dissera.

Eu não conseguia entender o motivo porque eu estava pensando nisso, afinal, fui eu que pedi para ele não me procurar nunca mais. Fui eu que permiti que ele fosse embora, eu que permiti que ele saísse de minha vida de uma vez por todas. Por que, então, ele não teria direito de seguir em frente com sua vida, também? Por que manteria qualquer amor por mim?

Ao mesmo tempo que eu queria respostas para todas aquelas perguntas que rodavam minha cabeça, eu queria entender o por que de aquilo me afetar tanto. Eu estava feliz, não estava? Eu também havia seguido com minha vida sem ele. Havia entendido que eu e ele não havíamos sido feitos para ficarmos juntos. Éramos muito diferentes.

Mas eu estava com o coração partido, não dava para evitar sentir isso.

“Não sei o que fazer,” eu disse à Sam, que me olhava com preocupação, enquanto tinha sua caneca branca, cheia de café, em mãos. Vi que ela respirou fundo antes de abrir a boca, e com isso eu já sabia, uma bomba estava à caminho e eu devia me preparar.

“Você não tem que fazer nada, Allie.” Percebi que Sam estava se segurando ao máximo para não soltar completamente o que queria, no mínimo não queria me magoar, me deixar sentida, como sabia que poderia acontecer, mas pelo visto, ela foi vencida pelo cansaço e continuou na maior calma. “Você permitiu que ele fosse embora, que fosse para Londres, não é? Foi você que decidiu não lutar pelo que queria por causa de um orgulho estúpido. Agora podia pelo menos deixar o cara seguir com a vida dele e ser feliz.”

Ouch.

Deixá-lo seguir, era isso. A questão toda fora essa, afinal, eu não podia esquecer. Era difícil de lidar com aquela realidade, de ouvir aquilo, mas Samantha era quem dizia o que eu precisava ouvir e me colocava no eixo. Aquela era minha amiga e estava repleta de razão.

“Você não está feliz? Não está contente com o rumo que sua vida está tomando nos últimos tempos? Allison, você me disse isso, disse que o Chris te fazia feliz, que você chegava a pensar em um futuro com ele… Aposto que o Zac pensou a mesma coisa a respeito da noiva dele. Já que você não o quis, já que você escolheu que ele fosse embora e que não te procurasse nunca mais, por que ele ficaria sofrendo por você sem encontrar ninguém para dividir um futuro? Você realmente gostaria que ele passasse o resto da vida dele sozinho? Lembre-se, poderia ser você a ter o nome gravado naquela aliança, mas minha amiga, foi você que escolheu que fosse assim.”

Senti meus olhos queimarem com toda aquela verdade que Sam estava vomitando para cima de mim. Em minha frente eu só conseguia ver uma Samantha embaçada. Ela tinha mesmo razão. Eu não tinha direito de questionar os motivos de Zac.

Sam se aproximou e me abraçou bem apertado, como só ela sabia fazer. Ela sabia que eu precisava daquilo, e infelizmente, sua blusa branca acabou manchada por meu rímel preto. Eu estava tão abalada que não consegui nem me desculpar por esse incidente.

Eu não havia percebido até aquela noite da conferência, mas toda aquela história ainda machucava e muito.

Quatro anos haviam se passado, mas para mim, tudo ainda parecia muito recente.

***

Um dos meus melhores hábitos atuais era e o de caminhar no parque pela manhã, além de fazer um bem daqueles ao meu corpo e minha saúde, ajudava no equilíbrio de minha mente. Eu adorava sentir a brisa bater em meu rosto, ouvir o som dos pássaros ali, respirar o ar fresco, fugir da correria das ruas de Nova York, fugir de mim, de minhas preocupações e de meus problemas.

E naquela semana, eu me sentia especialmente necessitada daquele tempo só para mim.

Depois de quase uma hora andando, precisei dar uma parada para descansar e recuperar o fôlego. Encostei em um quiosque para comprar uma garrafa d’água bem gelada e me sentei em uma mesinha próxima à ele.

Meu celular tocou e atendi no mesmo momento. Era Chris na linha.

“Onde você está? Dei uma volta no parque e não te encontro de jeito nenhum. Já foi embora?”

Chris sabia bem qual era minha rotina, e ele fazia questão de não perder qualquer detalhe vindo de mim.

“Estou no quiosque azul, sentada.” O vi andando com o celular colado ao ouvido, olhando para os lados com um olhar confuso e então acenei para ele, que me viu e veio em minha direção terminando a ligação.

Chris depositou uma das mãos em minha nuca, me dando um beijo caloroso nos lábios. Puxando uma cadeira para bem perto de mim, se sentou e passou um dos braços por sobre meus ombros.

“Saudades de você, Allie. Tem pelo menos uma semana que você não me dá notícias.”

“Me desculpe, Chris, depois daquela conferência eu tenho trabalhado tanto que não tenho cabeça para mais nada.”

“Nem para seu namorado? Achei que tinha um certo grau de prioridade aqui.” Fez cara de quem estava ressentido e então sorriu.

“Não fique triste.” Fiz carinho em seu rosto. Eu amava aquela barba por fazer. Dei, então, um beijo em seus lábios. “O que você quer fazer hoje à noite? Tenho apenas que resolver umas coisas para o meu pai durante à tarde, mas depois estarei completamente livre.”

“Eu estava pensando… Um amigo que não vejo há tempos está de volta à cidade. Vamos sair pra comemorar à noite, seria muito legal se você fosse comigo. E depois a gente pode ir pra um lugar, só nós dois, o que acha?”

Chris tinha um sorriso travesso no rosto, que foi se desmanchando ao ver minha expressão confusa.

“Qual o nome desse seu amigo, Chris?”

Meu estômago girou e ele analisava meu rosto sem entender nada do que acontecia ali.

“Você com certeza não o conhece, amor. Se não quiser ir, eu entendo. Vou ficar mais uma vez abandonado e entre um monte de trogloditas com suas namoradas patricinhas, mas o que posso fazer?”

Eu não podia perguntar mais uma vez, não queria dar tanta sorte para o azar. Tentei fingir um interesse além do normal, sem pretensões, torcendo para que colasse.

“É claro que vou com você, meu amor.” Ele deu um sorriso largo, fazia mesmo questão de me ter ao seu lado sempre que podia. “Mas me fale, qual o motivo de seu amigo estar fora da cidade?”

“Ele arranjou um emprego em Londres, se não me engano.” Meu coração acelerou, seria muita coincidência. Deus, por favor! “E agora voltou, depois de uns bons anos. Não sei exatamente o motivo. Esses andarilhos ciganos, quem os entende?”

“Morar na Inglaterra deve ser legal.” Eu precisava manter a calma e a descontração da conversa.

“Eu não sei se me acostumaria, detesto chá.”

Ri de seu comentário engraçado, ele tinha esse dom de arrancar sorrisos das pessoas em momentos inesperados.

“Vamos embora? Daqui a pouco preciso me encontrar com meu pai e ele detesta atrasos, você o conhece.”

“Vamos. Meu carro está próximo daqui, te deixo em casa.”

Entramos no veículo e Chris ligou sua playlist no rádio, músicas que adorávamos em comum. No caminho todo eu não conseguia pensar em outra coisa, precisava tirar minha dúvida sutilmente, só não sabia como isso aconteceria.

Assim que ele parou em frente à minha casa, eu desci do carro e me aproximei do vidro aberto para me despedir de Chris.

“Te busco às 10, pode ser?”

Fiz que sim com a cabeça, dei um beijo nele e comecei a me afastar. Antes que arrancasse com o carro, chamei a sua atenção.

“Qual é mesmo o nome de seu amigo? Não me recordo.”

“Eu não te disse, lembra?”

“Então qual é?”

“É Zachary. A gente chama ele de Zac, é assim que ele prefere.” Chris disse enquanto revirava os olhos.

Eu não acredito.

“Te pego mais tarde!” Ele se despediu e arrancou com o carro.

Meus próximos passos foram falhos, minhas pernas não me obedeciam direito. Eu precisava falar com Sam, e precisava urgente.

Ah Zac, quando é que você vai parar de trombar no meu caminho?

***

Depois de conversar com Sam, e levar um esporro daqueles por estar “agindo feito criança”, de acordo com suas próprias palavras, decidi ir à essa tal de comemoração.

O que eu podia fazer? Eu já havia concordado em ir com Chris, e bem, eu não gostava muito de deixá-lo na mão. Ele era bom demais para mim, e eu tinha que recompensá-lo de alguma forma. Nem que fosse indo à lugares aos quais eu não queria ir. Encontrar, mais uma vez, com Zac não era bem o que eu chamava de comemoração, mas de acordo com Samantha, eu teria que enfrentar aquilo de frente, pois era isso o que pessoas adultas faziam.

E era exatamente o que eu iria fazer.

Depois de alguns minutos, fui me arrumar, e não sei por qual motivo, eu queria estar linda naquela noite. Se fosse para ir à um lugar do qual eu não gostaria de estar, pelo menos que eu estivesse me sentindo bem.

Além do mais, eu queria mostrar à Zac o que ele havia perdido de alguma forma. Mostrar que eu também havia seguido em frente e que podia muito bem ser feliz sem ele.

Suspirei fundo e então percebi o que eu estava fazendo. Como assim eu estava me arrumando para Zac?

Balancei a cabeça e me senti a pior pessoa do mundo. Era para Chris que eu deveria me arrumar lindamente, e não para a pessoa que me fez tanto mal.

Eu queria sumir, queria desistir de ir àquele lugar e quanto mais Chris demorava a aparecer, mais minha ansiedade ia às alturas. Eu estava me sentindo mal por tudo o que havia pensado antes, e em como eu queria ficar bonita para… Ele.

Eu estava prestes à ligar para meu namorado e desistir daquilo tudo.

Foi então que ouvi a buzina de seu carro em frente à minha casa.

Não dava mais para desistir. Eu teria que levar aquilo à diante.

Eu estava completamente ferrada.

***

A viagem até o local onde nos encontraríamos com os outros parecia eterna. Meu estômago girava e doía, e parecia que aquela noite, que mal havia começado, não acabava nunca.

Eu queria poder contar à Chris, para que então, ele me privasse disso. Mas como eu falaria para ele? Ah, Chris, oi, sabe esse seu amigo que está voltando da Inglaterra? Então, eu e ele já tivemos um relacionamento, e bem, ele apostou que dormiria comigo por dinheiro, então é isso, tchau. Como? Como eu falaria isso para ele?

Preferi deixar a vida tomar seu rumo e ver onde isso daria.

Assim que chegamos ao bar, Chris pegou em minha mão e me encaminhou para a entrada. Assim que viu o host, foi logo falando sobre a reserva para, então, podermos entrar.

“Viemos encontrar uns amigos, a reserva está em nome de Zachary Hanson.”

Só à simples menção daquele nome, os pelos de meus braços já se arrepiavam, eu queria poder controlar aquilo, mas parecia que a cada momento, ficava pior.

Seguimos o host e pouco tempo depois, já pude ver a mesa onde nos sentaríamos. Eu podia ver Zac sentado no meio de duas mulheres. Uma delas era sua noiva, disso eu tinha certeza, era mais do que óbvio de que ele a levaria, eu só não conseguia distinguir qual das duas, afinal, a noite em que a vi, em frente ao restaurante, depois de nossa conferência, estava escuro o suficiente para eu não conseguir reparar em como ela era, e eu sinceramente esperava que não fosse a que estava sentada à sua esquerda, aquela mulher era um espetáculo.

Assim que chegamos vi que o olhar de felicidade que Zac trocou com Chris, mudou como da água para o vinho, quando me viu. Ele ficou chocado, assim como eu havia ficado quando descobri sobre o tal amigo de Chris.

Naquele momento eu pedi aos céus para que Zac soubesse disfarçar o melhor possível, e por mais incrível que pareça, ele conseguiu.

O momento de choque e confusão quando me viu, foi substituído por uma felicidade repentina. Se era verdadeira, eu já não poderia dizer.

“Cara, quanto tempo não te vejo.” Ouvi Zac dizer para meu namorado, que foi à seu encontro para dar um abraço apertado em seu amigo.

“Seu puto, você ficou muito tempo longe. Nem veio para visitar os amigos.”

“Minha vida era corrida lá, Chris. Mas agora estou de volta e bem, quero aproveitar todos os momentos perdidos.”

“Ótimo.” Chris sorriu enquanto eu sentia minhas pernas tremerem. “Zac, quero que conheça a minha namorada, Allison.”

Eu queria sair correndo dali. Queria sumir, desaparecer completamente.

“É um prazer conhecê-la.” A voz de Zac era firme e quando olhei em seus olhos, pude ver que ele seguiria o mesmo jogo que eu.

Graças à Deus.

“Prazer.” Fui breve em minha resposta. Eu não queria prolongar aquela mentira toda.

“Bem, esse aqui é o Greg e a esposa, Alice,” percebi que ele os apresentava para mim, pois Chris parecia conhecê-los, já que os abraçava apertado. “Esse é o Paul, John,” Ele os apresentou, acho que para disfarçar, mas aqueles dois eu já conhecia de muitos outros carnavais e pude ver que ambos ficaram pálidos com minha presença ali, e ao contrário de Zac e eu, nenhum dos dois conseguiu disfarçar. “Esse são Cameron e Brenda, sua namorada,” a garota que estava sentada à direita dele. Então só restava… “E essa é a Rachel, minha noiva.”

Ele me olhou nos olhos e eu congelei.

Era ela, a garota da esquerda, a noiva dele…

E ela era linda.

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