Capítulo 9: Olhares

Megan

 

Mulheres são incrivelmente estranhas! Eu cresci as observando para entendê-las e para entender a mim mesma também, por que não? A maioria de minhas amigas sempre adquiriam coisas novas mais para mostrar e se gabarem do que tinham para as outras do que para sua própria utilidade. Uma rivalidade oculta até mesmo entre as mais próximas para serem a mais bonita do grupo, a mais bem sucedida, com o último lançamento do que quer que fosse, sendo exibido por ai como troféus.

Aquilo tudo era rídiculo.

Com o tempo eu precisei trabalhar com algumas delas e Deus! era um verdadeiro inferno! Todas aquelas contendas e fofocas e choramingos sem fim. Eu literalmente não me encaixava no meio delas.

No instante em que comecei a trabalhar para a Watson & Fletcher eu descobrira o paraíso na terra. Ser o único ser do sexo feminino naquele setor era absurdamente maravilhoso. No fundo, eu sabia que muitas das conversas deles eu nem iria gostar de ouvir só que, de qualquer maneira, o que diziam longe de meus ouvidos não me interessava, o que diziam perto de mim não tinha nada a ver sobre a marca da moda ou como a fulana engordou ou então como o cabelo da outra está com um corte desigual e isso já me fazia bem feliz.

Fora que Tom era um chefe excepcional acima de qualquer coisa. Eu realmente estava grata em fazer parte daquela equipe. Mesmo.

Eu só não planejara o que aconteceu a seguir.

Zac fora um bom amigo por meses, eu admirava sim toda sua beleza e também soube de algumas histórias sobre ele ter um bom número de mulheres em seu currículo, portanto, eu faria de tudo para me manter longe e aquilo estava decidido. Sem direito à negociações.

Até aquela noite.

Não havíamos decidimos, não havíamos combinamos nada daquilo, apenas aconteceu! E naquele momento, por algum motivo qualquer, o que Zac anteriormente significava para mim mudou completamente.

Era certo de que não ficaríamos juntos para sempre, eu já sabia, afinal ele fora sincero comigo desde o começo, deixando às claras que não queria um relacionamento sério, mas eu era simplesmente incapaz de voltar à estaca zero e esquecê-lo. E fosse como fosse, eu o queria para mim, mesmo que apenas por alguns momentos. Estar com ele, à sós, fazia com que eu me sentisse viva, afinal ele conseguia acender tudo o que eu mantia apagado dentro de mim. Então poder fazer parte do mundo dele, que era alguém tão reservado com suas conquistas, era no mínimo um privilégio. Além do mais, eu estava totalmente apaixonada! E devo confessar… Isso era uma droga.

“Meg?”, John me cutucara com o dedo indicador enquanto me chamava pelo nome para ter minha atenção.

“O que é garoto?”

“Eu te chamei três vezes, está com a cabeça onde?”, o olhei com desdém, tanto fazia onde eu estava com a cabeça, caramba. – “Temos reunião daqui a alguns minutos, viu o e-mail do patrão? Não sei se vem coisa boa por ai”.

“Pare de ser medroso moleque, é só uma reunião!”

Me virei para o monitor para ler o tal e-mail e lá estava em meio a pelo menos 50 novas mensagens em minha caixa de entrada.

Eu nunca os vencia!

 

De: Steven Watson: Presidência Geral

Para: Equipe de Artes – Watson & Fletcher Corp.

Assunto: Reunião.

Prezados colaboradores do setor de artes,

 

Estou enviando-lhes este e-mail para convocá-los para uma reunião às 16:40 de hoje, na sala de reuniões número 2.

 

A presença de vocês será indispensável.

Aguardo todos lá.

 

Atenciosamente,

Steven Watson

Presidente Geral da Watson & Fletcher Corp.

 

Nossa, muito bem feito, senhor presidente. Parabéns! Marcar uma reunião para o final do dia que, com toda certeza iria demorar séculos e iria ultrapassar o horário de saída de todos era uma ótima jogada. Eu já previa o que iria acontecer: ele falaria vários blá blá blás sobre como a filhinha querida e estúpida dele está fazendo um ótimo trabalho como diretora de nosso setor e soltaria mais uns blá blá blás e na metade daquela reunião eu já estaria tombando de sono.

Era uma reunião totalmente desnecessária, mas se eu queria manter meu emprego, eu teria que comparecer à ela.

Não tinha jeito.

Olhei para o lado e vi que Zac e Paul ainda estavam em suas respectivas mesas. John andava de um lado para o outro como se estivesse morrendo de ansiedade. Todas as vezes era assim. Ele sempre ficava nervoso com reuniões. Acho que tinha medo de perder o emprego, só pode.

Respondi alguns e-mails até que desse a hora de ir para a sala dois.

“Está pronta?” Paul me perguntou com aquela voz grave.

“Ainda não. Vão indo. Mais dois segundos e estarei bem atrás de vocês.” eu disse sem tirar os olhos da tela em minha frente. Quando eu começava a fazer uma coisa, raramente eu deixava pela metade e aqueles e-mails não seriam uma excessão.

“Vamos”, ouvi a voz tão conhecida de Zac vir em minha direção. Ele falava com Paul obviamente, mas fez com que me chamasse atenção.

O olhei e sorri. Nossa última noite juntos não saía de minha cabeça de maneira alguma, todas aquelas cenas que compartilhamos ficavam se repetindo em um loop em minha mente. Zac havia sido carinhoso como sempre e tudo o que eu mais queria era poder repetir aquilo por mais uma vez. Porém, com toda a certeza desse mundo ele pensava totalmente diferente de mim, pois no minuto em que nossos olhos se encontraram, a única coisa que ele fez foi assentir, me cumprimentando, voltando então a seguir Paul no mesmo instante.

Eu ainda dobraria Zac Hanson de uma maneira ou de outra.

***

Respondi mais a uns três e-mails, conferindo então o horário logo depois que apertei enviar no último. Eu estava bem em cima da hora e por isso não me demorei muito mais para sair.

Peguei minha bolsa e fui correndo pelos corredores da W&F sem me importar com quem estava em minha volta. Antes de entrar na sala, parei em frente à porta e me ajeitei, passando a mão em frente de minha roupa. Respirei fundo para que não percebessem que andei correndo e então entrei.

“Com licença.” eu disse e me dirigi para o lugar que havia sobrado para mim, esse lugar era exatamente de frente para Allison e ao lado de John.

Ótimo.

“Estamos todos aqui, então?”, Steven perguntou ollhando para cada um de nós, nos conferindo.

“Sim”, a maioria de nós simplesmente acenou com a cabeça, esperando que Steven começasse logo aquela reunião para que pudéssemos ir logo para casa descansar.

“Marquei essa reunião de última hora pois acabei de receber os números dos últimos dois meses até agora. Estão ansiosos para saber?”

Nossa, estamos morrendo de ansiedade, Steven. Ele nos perguntava aquilo com o maior sorriso do mundo, aparentemente estava orgulhoso de ter a filha ocupando um cargo tão importante naquele setor. O que o nepotismo não faz, não é mesmo?

“Comparando os anos que Tom esteve conosco com os dias de hoje, tivemos uma leve mudanças nos números. Uma alta, para falar a verdade. A Allison não está exigindo que vocês trabalhem muito, não é?” Ele riu. “Também percebi que tivemos alguns aumentos nas horas extras. Allison, vamos diminuir isso ai pois senão vou à falência!” Ele disse após se virar para ela.

Há!

“Bem meninos,” ele se virou para nos olhar, “vocês ainda são muito novos e como bem sabem, isso não quer dizer que são inexperientes, mas muitos sem cérebro acham que idade é o mesmo que pouca experiência, mas estou muito feliz de um dia ter decidido dar uma chance para novos pensadores. É sempre muito bom ter uma mente fresca no processo de criação que temos aqui. Vocês trazem novas ideias e brilhantismo para nós todos os dias e eu agradeço à vocês por isso. Vocês estão realmente de parabéns por todo o trabalho duro que têm feito aqui.” E com isso, o presidente então puxou uma salva de palmas, que todos nós copiamos.

Steven sempre fora um homem que valorizava muito os funcionários que tinha. Isso não dava para negar. Ele via futuro em nós e sabia se aproveitar disso sem montar em cima de nós.

Ele era um bom patrão afinal.

“Aproveitando o assunto, vocês têm algo à dizer? Desde novas ideias até algum tipo de comentário sobre como estamos indo?”

Ele nos olhou esperando que respondêssemos alguma coisa, o que Zac fez sem muita demora.

“Senhor, fico muito feliz de saber que estamos fazendo bem o nosso trabalho por aqui e acho que posso falar isso por todos os presentes aqui. Sobre a dica que o senhor pediu, eu venho pensando nisso há um tempo já, desde a época em que Tom ainda trabalhava por aqui e acho que devemos ter uma divisão de clientes entre nós. Clientes fixos, digo. Alguns de nós já trabalhou com um determinado cliente e com isso, de uma próxima vez seria bom que o mesmo continuasse com ele para não haver confusão e para termos mais proximidade com eles também. Deixar tudo mais intimista. Clientes gostam disso.

“Hmmm… Isso pode ser uma ideia a ser analisada por todos, Zachary. Afinal, é ótimo que tenhamos um trabalho mais próximo com os clientes, mas é bom que vejamos todos os problemas que isso pode causar também, como por exemplo, se um de vocês precisar de uma licença, como vamos fazer?”

“Eu já havia conversado sobre isso com o Tom e se acontecer de termos que nos ausentar, o outro conseguiria dar conta de nossos clientes sem qualquer problema. Isso funcionaria mais para evitar misturas de trabalho, Steven.”

“Vamos pensar melhor nisso, Zac… Allison, você poderia por favor analisar melhor a ideia do Zachary e decidir se isso entra em questão nesse setor ou não?”

Aquilo já estava ficando ridículo. Ok, tanto faz quem pega cliente x ou y, Zachary.

“Claro, senhor.” Allison respondeu e então ela e Zac trocaram um olhar que me mexeu comigo.

Mas que merda de olhar era aquele?

Eles sorriam um para o outro e Allison chegava a ficar com as bochechas vermelhas.

Franzi a testa enquanto olhava de um para o outro.

Parem já com isso! Aaaaargh!

Alguma coisa estava rolando por ali e uma coceira brotava de trás de minha cabeça. Não, não, não, não, não. Não era possível.

Não preciso nem comentar que depois dessa, a concentração que eu mal tinha naquela reunião havia se esvaído por completo, não é?

Mais alguns vários minutos depois e Steven finalmente havia parado de falar.

Graças à Deus. Eu não aguentava mais.

Steven fora o primeiro a deixar a sala de reuniões seguido por Allison logo atrás. Eu demorei a me levantar e Zac olhou para trás como quem dizia “Vai ficar ai para sempre?”, revirei os olhos e me levantei passando por ele cochichando alto o suficiente para que me ouvisse.

“Você me parece tão puxa saco quanto os outros agora. Mal te reconheço!”.

E então o deixei para trás esbarrando em Allison ao me retirar da sala no segundo seguinte, ela estava voltando para dentro e não a vi a tempo.

“Oh, me desculpe Megan. Pode me acompanhar até minha sala por um instante? Preciso falar contigo. Não tomarei nem cinco minutos e você poderá ir para casa, te prometo.”

Entramos em seu aquário e encostei a porta logo atrás de mim.

Lá dentro Allison solicitou que fizesse à ela uma lista de todos os clientes os separando por possíveis funcionários que os atenderiam dali em diante para que ela analisasse, então, junto a equipe no dia posterior. A divisão de clientes e funcionários deveria ser justa e uniforme, de acordo com ela.

Concordei com aquele serviço extra muito à contragosto e me encaminhei para minha mesa novamente, eu só conseguia pensar em todo o trabalho que aquela ideia idiota iria nos trazer e em como Zac estava se submetendo à tudo aquilo e se tornando um daqueles a quem tanto julgava e criticava, alguma coisa estava muito fora do lugar por alí e eu precisava descobrir o que era.

Sentei em minha cadeira, alguns novos e-mails haviam chegado mas eles teriam que me esperar, coloquei minha máquina para desligar e olhei em direção à mesa de Zac. Ele parecia concentrado, pensativo, olhava para o monitor à sua frente mas não parecia estar com a cabeça ali, seu olhar estava distante e perdido. O encarei por um tempo até que me notasse por fim. Nossos olhos se encontraram por alguns segundos antes de ele abrir a boca e erguer uma de suas sobrancelhas.

“O que foi?”

Eu estava brava com ele por estar, ao que me parecia, se rendendo à ela tão facilmente. Todos pareciam gostar de Allison agora e isso estava me devorando por dentro.

Eu é que deveria ser a preferida ali, ela mal havia chegado àquele setor e para mim aquilo não parecia justo.

O fato de isso estar acontecendo só fazia com que eu detestasse ainda mais de trabalhar com mulheres. Era óbvio, eu já sabia daquilo desde sempre, mas naquele dia eu descobri que o fato de eu ser uma também não me ajudava em nada.

Peguei minha bolsa sem responder ao que ele havia me perguntado e me retirei dali rapidamente, andando a passos largos até o elevador. A última coisa que eu queria era ver a cara dele ou de qualquer um dos outros por um segundo a mais sequer. Eu estava cheia de fingir que estava aceitando aquela palhaçada bem e graças à Deus as portas do elevador se fechavam no exato momento em que Zac me olhava com o olhar cheio de questionamentos.

Ele e eu precisávamos de ter uma conversa sincera e logo, o que ele me dissesse, fosse o que fosse, era melhor do que aquela dúvida terrível que estava rodando por minha mente.

Peguei meu celular e escrevi uma mensagem endereçada à ele, “Quero te ver, tenho algumas perguntas a fazer.” Li, reli e sacudi o celular por pura ansiedade e a pergunta pulou de repente em minha tela: “Desfazer digitação?

Respirei fundo, a porta se abriu e antes de eu descer no térreo cliquei em desfazer e segui para a saída.

Com certeza eu descobriria tudo, mas descobriria do meu jeito.

Capítulo 10 >>

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